"por defeito"
Esta pequena expressão, ontem, deu pano para mangas. Estamos a falar, claro, da expressão matemática de arredondamento. Este é sem duvida o calcanhar de Aquiles do meu filho, a matemática. Seria de imaginar que tem, portanto, sérias dificuldades com a disciplina, mas não é o caso. Segundo a própria professora ele tem excelentes capacidades de raciocínio lógico, e facilidade em apreender a matéria. Confuso? Eu também fico baralhada.
A primeira "crise existencial" do meu filho aconteceu exactamente com os primeiros trabalhos de casa de matemática. Nesse dia tinha errado uma conta ao trocar um número, e quando lhe expliquei onde estava o erro, explodiu com uma enxurrada de acusações que não tinham qualquer fundamento. Nomeadamente, dizer que eu estava a chama-lo burro, que achava que ele não sabia nada, que não gostava dele. Nessa mesma altura, consegui falar calmamente com ele, explicar-lhe que não pensava nada do que ele dizia, que nem queria ouvir a palavra burro aplicada a outra coisa que não ao animal a que corresponde e que erros todos nós cometemos e este até era fácil de corrigir, com um pouco mais de atenção e treino. Depois desse primeiro momento a situação resolveu-se e ele conseguiu fazer tudo direitinho e sem ajuda.
O problema é que "volta e meia" a situação repete-se. Uma pequena dificuldade, uma palavra fora do sitio, um número trocado e a enxurrada repete-se, e agora já não é tão fácil ficar só pela conversa porque ele acaba por se tornar agressivo connosco e responde torto, acabando diversas vezes de castigo por ser mal educado. A verdade é que sempre, depois de se acalmar, pega no exercício e faz tudo bem sem ajuda, mas aquele "click" está difícil de passar.
Se ao menos eu soubesse o porquê de ele se sentir assim em relação a esta disciplina, talvez o pudesse ajudar mais. Já tentei conversar com ele sobre o assunto, tentar perceber de onde vem a aversão à disciplina e porque é que ele se acha "burro" quando tira excelentes notas. Estamos sempre a lembrá-lo que o importante é que estude e treine, que os resultados bons vão aparecer (como aliás já aconteceu), e que não precisa de ter bom para gostarmos dele.
Quando falei nisto a uma pessoa amiga formada em psicologia disse que isso só poderia mudar com o tempo, que só quando ele estivesse seguro é que falaria mais abertamente sobre estas e outras questões connosco, que preciso ter paciência. E, convenhamos, isso é a parte fácil, o mais difícil é vê-lo tão abalado com algo que nós não podemos mudar de uma hora para a outra. Não há nada pior do que ver um filho a sofrer e saber que só o tempo o vai ajudar!!