"É preciso coragem!!"

... ao longo destes últimos anos, tenho ouvido por diversas vezes esta frase ("É preciso coragem!!"), sempre que conto as circunstâncias da chegada do meu filho a casa, da parte de variadas pessoas... e a minha resposta é, invariavelmente, a mesma: "Para mim não foi uma questão de coragem, mas uma questão de vontades e circunstâncias!" e fico sempre com a sensação que não me perceberam.

Porque será que, a maioria das pessoas, acha que adoptar requer coragem? Adopção tardia requer coragem??? Então, e gerar uma vida aos 30 ou 40 anos não é preciso coragem (ou em qualquer outra idade)?? E ser-se pai/mãe adolescente não requer coragem??? E, numa sociedade tão preconceituosa como a nossa, assumir que não se quer nada com a parentalidade, não é preciso coragem?? Afinal, o que é isso da coragem???

Num discurso mais filosófico, há quem explique que a coragem não é a ausência do medo, mas a capacidade de seguir em frente com os objectivos traçados, apesar do medo.

Se assim é, então concluo que quanto maior o medo que sentimos maior é a nossa coragem ao seguirmos em frente, e, novamente, se assim é, então não me considero mais corajosa que qualquer outra mãe ou pai, porque não é o medo de falhar com os nossos filhos que nos impede de os procurarmos!

Agora se querem falar-me de coragem MESMO, então falem-me destas crianças, em particular as mais crescidas, como o meu filho, que, apesar de todas as adversidades vividas, apesar no número de adultos que lhes falharam que os magoaram e desiludiram, ainda assim, apesar de um receio enorme do desconhecido, se entregam nos braços de uma nova mãe, ou um novo pai... de uma nova família que é, nada mais nada menos, que um número gigantesco de novos adultos que os poderão magoar, novamente!!!!

Sim, as nossas crianças, que chegam à família pela via da adopção, é que são os verdadeiros corajosos, porque apesar dos medos, da falta de informação (ainda sabem menos dos novos pais, que os novos pais sabem deles), apesar de não terem escolhido formar uma família por esta via, seguem em frente e de uma forma ou outra aceitam o desconhecido.

Não esqueço, a expressão do rosto do meu filho, nos seus olhos, quando iniciámos, pela primeira vez, a viagem para casa. Por isso, se querem falar-me de coragem, falem da dele e de outras crianças como ele... não falem da minha, que em momento algum esteve presente nas minhas acções ou decisões!!!