Do calendário escolar às asas da liberdade
Desde que os meus filhos "chegaram a casa" que a minha vida mudou, como é óbvio, em todos os sentidos, mas num aspeto particular...deixei de me orientar pelo "calendário gregoriano tradicional" para passar a seguir o "calendário gregoriano escolar"... acredito que seja assim para todos os que têm filhos em idade escolar!
Contudo, e fruto desta questão básica de só ter conhecido os meus filhos no final da infância deles, seria de esperar que esta questão nem fosse muito importante, neste momento, em que a criança mais nova se prepara para deixar o secundário...mas está a ser muito aflitivo...tenho crises de ansiedade que quase me levam a ataques de pânico...acho que não vou conseguir orientar-me sem o calendário escolar!!
Como viver sem ter de planear as férias deles de três em três meses?? Como organizar as férias de verão, agora que estão prestes a seguir pela via profissional e os calendários podem não coincidir???
Estou mesmo com dificuldade em gerir tudo isto!!!!
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E simm...eu sei...não se trata de calendários!!! Mas de sentir os meus "bichinhos" a abandonar a minha asa!!!! Todos os pais me dizem sentir o mesmo nesta fase, há os que me tentam consolar dizendo que mais tarde eles voltam. Ainda assim, não consigo imaginar essa realidade. Digo a mim mesma que se trata de, apenas, mais uma etapa da vida, que tudo irá encaixar, mas é nesta fase que os receios da adoção tardia me assaltam.
Será que tivemos tempo suficiente juntos para criar impacto significativo na vida deles? Será que depois de saírem para o mundo sentirão a minha falta? Até que ponto eu continuo a ser relevante na vida deles?
Os nove anos que tive com o meu filho "debaixo da asa" não foram, de forma alguma, suficientes para o libertar das amarras, e dar-lhe a confiança necessária para construir o seu caminho. Vive com receio de errar, portanto, nada arrisca, nada escolhe, nada decide . A minha filha, em quase seis anos, pouco conseguiu fazer para se libertar da infância e do mundo de fantasia onde vivia antes . Os psicólogos dizem que tenho de os deixar ir, e cair, e sofrer, e levantar, e conquistar por eles próprios, mas sinceramente, acho que não sei fazer isso sem ficar com o coração nas mãos e o nó na garganta em permanência.
Não espero que tenham as respostas todas para o futuro deles, não desejo ser a bengala da vida deles, não acredito que serão sempre felizes e realizados...ainda assim, gostaria de ter tido tempo para fazer mais, de ser mais!
Está a terminar o ano escolar da minha filha, quer seguir a via profissional, nunca gostou de estudar, nenhum incentivo, exemplo ou encorajamento, conseguiu mudar isso, sei que é capaz de muito mais do que dá a ela mesma, sei que poderia realizar muitos dos sonhos de que se diz incapaz... sei que tenho de a deixar perceber isso por ela mesma... mas como não ambicionar um mundo de possibilidades para uma miúda tão especial como ela!?!?!
Há dias que só penso "por que raios me meti nesta loucura de ser mãe? não tenho jeito nenhum para isto!!" e depois olho para o lado, e vejo a minha boneca doce, aninhada nos meus braços, e então percebo!!!