Coisas em que não pensei
Quando o meu filho veio para casa houve questões em que não pensei. Na verdade houve muitas!! Umas que tive de resolver na hora, outras que se foram resolvendo logo nos primeiros tempos e outras que nunca se resolveram e que só agora, dois anos depois vêm "ao de cima".
Recordo, como se fosse hoje, o momento em que recebi o "telefonema". Recordo que pensei "Oh meu Deus, encontraram o meu filho!". Recordo que me senti como se saísse de mim, tamanha que era a alegria, a ansiedade, a surpresa! Recordo que pensei que se calhar não era o melhor momento, por tudo o que estava a acontecer na minha vida (não sei se já falei por aqui, mas nesse dia tinha ido deixar a minha irmã mais nova ao hospital para uma cirurgia, o meu marido tinha estado internado, aliás andava em exames pois não havia diagnóstico ainda definido para um problema de saúde que havia surgido um mês antes). Recordo que pensei apenas em ir ter com ele, onde quer que estivesse!!
Enfim, recordo muito, mas não recordo ter pensado "o que é que ele precisa?"... além de vir para casa e estar com os pais!
Recordo que só quando veio passar a noite connosco ao hotel, me apercebi que ainda não tinha comprado qualquer produto de higiene para ele, por isso tive de pedir que ele trouxesse, pelo menos a escova de dentes.
Recordo que, depois de umas semanas em casa, num fim-de-semana em que "apaguei" por completo e não o ouvi levantar-se, vou encontrá-lo, uma hora depois, sentado no sofá a ver televisão. Quando o chamo para o pequeno almoço diz-me "estava mesmo a morrer de fome"... não me lembrei de o avisar que caso sentisse fome só tinha de ir ao armário ou ao frigorífico (para ele era algo estranho mas que depressa se habituou).
Recordo hoje que, logo na primeira noite lhe disse que a mãe e o pai estavam mesmo ali ao lado, no outro quarto, e que se precisasse de algo bastava chamar-nos (as primeiras noites dormi com as portas abertas para garantir que o ouvia). Ontem, porém, descobri que não fui específica o suficiente. Como falei aqui, o rapaz está doente e quando ontem o deitei disse-lhe que, se acordasse durante a noite com dores ou febre, me chamasse que eu vinha, ao que ele responde: "vens? porquê?", "bem porque sou tua mãe e tenho a obrigação e o prazer de cuidar de ti quando precisas" disse eu; "Ah então se eu tiver um pesadelo também te chamo? e posso ir para a tua cama?", e eu respondo "sim, claro"; "e posso dormir ao pé de ti?"... "sim filho, não foste mais vezes ter comigo à cama?" "pois, mas isso foi de manhã!"... "certo, mas se for de noite é igual!"... "a sério? só por causa de um pesadelo???"... voltei a confirmar e abracei-o...
... quando saí do quarto dele chorei. Só naquele momento percebi que tinha falhado com o meu filho. Apenas por ignorar que ele não sabia que o colo da mãe está sempre disponível, até mesmo para o acalmar depois de um pesadelo. Há tantas coisas em que não pensamos. Tantos pequenos detalhes que por ausência minha nos primeiros anos de vida dele não lhe pude ensinar...e por ignorância, por tomar por garantido certezas que o meu filho não tem.
Hoje já passei muitas horas com ele ao colo, um "marmanjo" de 11 anos... mas quero que ele grave na memória que o colo desta mãe será eterno, como é eterno o colo da minha mãe!!!