As "crises existenciais"
Já por aqui falei noutros posts sobre as crises que ocorrem no início de uma adopção, particularmente na adopção tardia, e que são das crianças mas com as quais os pais também sofrem/sentem.
Estas "crises" (que eu chamo de existenciais, já que aparecem do nada e esfumam-se da mesma forma) podem ter vários contornos. Umas são mais violentas que outras, umas são momentos de choro compulsivo, outras são de gritaria e violência verbal contra os próprios ou contra quem está perto deles, e pode chegar à violência física contra eles mesmos ou contra os pais, irmãos, amigos, ou mesmo levar à destruição de propriedade.
Podem aparecer do nada (nem sempre eles próprios conseguem apontar uma razão) como também acontece quando se sentem inseguros ou vivem um momento de maior pressão, há alturas em que descarregam na hora, outras vezes só mais tarde. Pela minha experiência, por aquilo que vou lendo e pelo que outros pais de coração me contam, na maioria dos casos, termina de forma tão abrupta como começou.
Recordo um brinquedo que o meu rapaz destruiu num desses acessos (nunca foi muito de destruir propriedade), quando a crise passou pediu ao pai para o arranjar, mas eu disse-lhe que não. O brinquedo não seria arranjado, nem substituído, nem deitado fora, ficaria numa estante do quarto para que se recordasse que não tem o direito de destruir o que lhe dão ou que é de outros. A minha mãe achou um pouco cruel, afinal ele não tinha feito de propósito, mas a verdade é que funcionou. Claro que não foi só o brinquedo estragado, nem foi só as inúmeras conversas que tivemos, não foi só o tempo que ajudou a curar algumas feridas, mas acredito que o conjunto de tudo que levou a que o episódio não se repetisse.
Há pouco tempo questionaram-me se as ditas crises já tinham diminuído, quanto tempo tinham demorado a passar, como lidava com elas. Respondi com o que sabia, que as crianças são todas diferentes, as vidas passadas são diferentes, que apesar de no meu filho o "pior" das crises ter passado, não significa que seja de vez, e também não sei se a forma de lidar com elas foi a mais correcta!!!
Sei que hoje em dia (quase dois anos depois) as "crises" têm um "nome", ou seja, já conseguimos perceber o que as vai desencadear, o porquê, e como "amenizar" as coisas para que não se transforme em mais uma batalha... mas este é um assunto para outro post!