Divórcio e adoção
Perguntar-me-ao qual a relação entre os dois assuntos, e eu respondo que, a meu ver, não tem, absolutamente, nada que os ligue...Adopção é uma forma de se ser família, divórcio é o fim de uma relação entre dois companheiros.
Há um ano atrás, quando aqui escrevi, já me encontrava separada do meu companheiro, mas, sinceramente, achei que nada tinha a ver com o tema do blog, daí não ter partilhado.
Até que, meses depois, num encontro com família alargada, alguém me perguntou: "então e como vão fazer com os miúdos? vão ter de os devolver?"...confesso que, inicialmente, fiquei sem reação; depois devolvi a pergunta: "porquê a X quando se divorciou devolveu algum dos filhos?!?"...claro que a resposta foi "ah não, claro, os dela não foram adoptados!"... fiquei muito frustrada, pensei que esta história já estava ultrapassada, que já era um não assunto, afinal toda a família (até a mais alargada) sempre aceitou os meus filhos de braços e coração aberto, desde o primeiro dia em que os apresentei. Foram sempre acarinhados por todos, sem exceção. Talvez daí a minha frustração com a conversa!
Só quase no final do dia, numa homenagem aos que não estão mais entre nós, percebi que o amor da família pelos meus filhos não estava em questão, tal foi o carinho com que os bafejaram, num momento deles, de tristeza e saudade da minha mãe ("a avó meiguinha" como o meu filho lhe chamava) e que partiu durante a pandemia. Foi então que percebi, que na conversa desajeitada havia preocupação genuína com o futuro deles, e uma grande dose de ignorância sobre o assunto.
Este não foi o único momento, ao longo deste ano, que fui confrontada com este desconhecimento - o que significa realmente a adopção -, daí sentir que sim, é importante falar dele...mais uma vez, sem tabus.
E sim, no final de 2022, saí de casa, deixei o lar que havia construido para mim e para os meus filhos em busca de mim mesma. Foi tudo muito tranquilo e civilizado. Preparámos os miúdos com alguns meses de antecedência. Vivi a fúria da minha filha comigo no dia que lhes comunicámos o fim do nosso casamento, e a frieza e distanciamento do meu filho.
Foi duro... para mim, para eles, e para o meu ex-marido, como todos os finais são. Abri o diálogo desde o primeiro segundo, consegui aclamar os receios iniciais da minha filha rapidamente. O pai teve um trabalho extra para lhe mostrar que não a iria abandonar e que o amor por ela estava igual, e em poucos meses tudo ficou mais tranquilo para ela sobre este assunto. Acredito que fortalecemos a nossa relação, hoje existe uma cumplicidade e pertença que talvez não fosse possível de outra forma.
Com o meu filho foi mais difícil. Ele deixou de ter a mãe presente no dia-a-dia, passou a ser apenas o fim de semana, e outros encontros ocasionais, mais as férias e as festividades e ... enfim, o que é normal quando saímos de casa para embarcar na aventura do ensino superior, mas ele demorou a perceber esse conceito, afinal ficou na casa da "infância" sozinho com o pai...levou o seu tempo, foi preciso muito trabalho, algumas discussões calorosas, alguns desentendimentos mais duros, mas com o pai e a mãe a remar em conjunto para lhe mostrar que o amor continua lá, que continuamos e continuaremos a estar do lado dele, venha o que vier.
Hoje, estamos todos melhor. Mantemos alguns rituais de familia de 4, nos eventos especiais da vida deles, o diálogo é constante e permanente sobre todos os assuntos, e trabalhamos diariamente para lhes mostrar que o fim de um casamento não tem de significar o fim do respeito e da consideração por quem já foi tanto.
Todos os dias temos novos desafios, e todos os dias lutamos para viver da melhor forma que sabemos e somos capaz.
E tal como qualquer família biológica, o importante é dar aos filhos o que eles precisam, num momento (divórcio), que eles não escolheram participar.