Este blog, mais do que "mãe de coração" tem
"fragmentos de uma vida comum".
Uni os dois blogs e, aqui, falo de adopção em geral,
da nossa experiência e de outros pedaços da minha vida.
Este blog, mais do que "mãe de coração" tem
"fragmentos de uma vida comum".
Uni os dois blogs e, aqui, falo de adopção em geral,
da nossa experiência e de outros pedaços da minha vida.
...é verdade! Ando meio desaparecida destas andanças dos blogs, nem escrevo nem leio!!! Estou a precisar de me actualizar!!!
Quanto ao meu pequeno príncipe, tem estado tudo muito calmo (será que vêm aí tempestade??), ou pelo menos dentro do que seria de esperar de um rapaz de 10 anos!
A maior dificuldade é conseguir motivá-lo para algo mais do que computador e berlindes...é verdade que tem feito os trabalhos de casa, tem os cadernos mais "limpos" (não risca tudo nem escreve com rabiscos), não tem perdido material, enfim ...há pequenos progressos que até podem ser temporários, mas cá por casa são sempre louvados!!
Os dias passam e as pequenas batalhas ganhas são guerras vitoriosas, é assim que quero encarar as coisas para mantermos o optimismo e continuarmos a lutar!
Para este fim-de-semana, contudo, já espero a tempestade. O pai vai estar fora por uns dias, será a primeira vez, e, sinceramente, não sei como vai reagir. Ainda fica sempre numa ansiedade louca com qualquer alteração da rotina. Não ver o pai durante 3 ou 4 dias, vai ser um desafio. Só que ele se atrase no fim do dia, começa logo o interrogatório e pede várias vezes para lhe ligar...
Achei melhor só lhe falar amanhã de manhã, já que o pai só sai há tarde, e assim pelo menos terá a noite tranquila!! Vamos ver, como sempre, ainda me pode surpreender...mas vou preparar-me para o pior e depois gerir o que vier!!!
O Relatório CASA referente a 2014 já foi publicado. Mais uma vez falam os números. É através destes que se procura despertar consciências. Já muitos relatórios foram feitos e até agora nada de verdadeiramente substancial mudou. Pelo menos não para os nossos jovens/crianças.
Será que não seria mais produtivo um relatório que incluísse a participação, através de entrevistas, de um grupo seleccionado de "especialistas" e não não me refiro a técnicos da área social, mas Às próprias crianças, aos adoptantes, aos que, no dia a dia convivem com os problemas e dificuldades reais!?!
Depois de ser apanhado em "travessuras" o pai chama o filho para uma conversa. A meio da conversa coloca ao filho a questão que considerava que Deus lhe poderia colocar quando um dia se visse no céu:
..."Tiveste uma vida boa?"...
À falta de resposta, o pai continua e conta-lhe uma história.
"Uma vez conheci no Porto um homem muito rico que me disse que tinha uma boa vida. Possuía um automóvel, uma grande casa na Foz e outra em Lisboa e outra no Rio de Janeiro, grandes propriedades na Régua e em Amarante e fartava-se de viajar. Ia a Madrid, a Paris, a Londres. Mas com tudo isso afastara-se da família e os amigos só o queriam porque ele era rico. Fiz-lhe, por isso, a mesma pergunta. <<O senhor anda numa boa vida, mas acha realmente que tem tido uma vida boa?>> Ele ficou um longo momento calado e acabou por responder: <<Não.>> Sabes porquê? Porque andar na boa vida e ter uma vida boa são coisas diferentes. Andar na boa vida é viver no conforto e no luxo, é ter grandes casas, grandes carros, é aproveitar-se das coisas e gozar o momento. Ter uma vida boa é diferente. É ter amor e amigos, é ter valores, é ajudar os outros, é ter carácter e ser honesto, é ser feliz e fazer os outros felizes. Esses são os que têm uma vida boa. Estás a perceber?"
...
"Quando comeste as amêndoas das tuas irmãs andaste na boa vida. Mas é importante que saibas que não tiveste uma vida boa. Roubaste as tuas irmãs e enganaste-as. Viveste com um segredo que te sujou. Viver bem não é viver à grande, é viver limpo e feliz."
...
"Imagina que quando pões este anel ficas invisível. Nem Deus te consegue ver. Ficando invisível, ninguém poderá saber o que tu fazes, não é? Isto quer dizer que nada do que fizeste te será atribuído. Nem as coisas boas nem as más. Podes roubar uma pessoa e ninguém saberá. Podes salvar a outra e ninguém saberá. Que farás nestas circunstâncias? Farás o que farias se te pudessem ver? Ou farás coisas diferentes?"
...
"É esse o teste das pessoas boas. Comporta-te sempre com honestidade, estejam ou não outros a ver-te, possas ou não ser premiado, e terás uma vida boa."
Retirado do livro O ANJO BRANCO de José Rodrigues dos Santos
Ás vezes é difícil explicar a outros as reacções do meu filho, eu própria receava estar errada no que pensava. Quando os nossos filhos não conseguem comunicar connosco fica tudo mais complicado. Agora a ler o livro "Abandono e Adopção" de Eduardo Sá, vou encontrando respostas e dando certezas às minhas convicções!
"5. Então, desde quando é que uma criança abandonada percebe essa realidade?(ser abandonada)
Desde muito cedo. De início, através de insónias mais ou menos persistentes, de falta de apetite, ou de agitação, por exemplo. Com elas, as crianças reagem aos mais subtis sinais de cansaço, de tristeza, ou de angústia dos pais (ou de quem as cuida) e, traduzida a mensagem que emerge do protesto, quer dizer: "eu acho que tu estás inquieto; como posso ter a certeza que tomas bem conta de mim?...".
Quando são maiorzinhas, e são abandonadas, as crianças guardam e recordam, com minúcia, os episódios traumáticos que antecederam uma experiência violenta e brutal que fica a pulsar no seu pensamento e que uma relação maternamente empática pode ajudar a esbater.
A partir dela, alguns organizam um romance familiar em que associam o aparecimento dos pais a um renascimento, e dizem: "Quando eu nasci, no dia em que me vieste buscar...".
Depois, quando se está numa instituição e se tem que "(...) repartir afectos, atenções, sonhos e projectos por todos os 'irmãos' duma mesma instituição", reagir ao abandono pode passar pela raiva que se expressa, pela tristeza, por insucessos vários, como se nos quisessem dizer:
"Repara lá que eu existo e que não sou capaz de dizer que me sinto mal de outra maneira!..."
Já quando se é colocado numa família e se sente que ainda não se lhe pertence, a consciência do abandono manifesta-se quando as crianças são bem-educadas e "consertadinhas". Como se adoptar os pais fosse pacífico e simples quando, com isso, as crianças quererão, simplesmente, dizer que talvez ainda não se sintam em casa.
Finalmente, quando se faz já parte da família, e se chega a casa e se confidencia que os outros meninos disseram que aqueles não são os seus pais. Talvez aí mereçam que eles comentem:
"Não estarás a perguntar-me até que ponto nós gostamos de ti como sentes que os pais dos teus amigos gostam deles?..."
No fundo, aquilo a que chamamos revelação será, talvez mais, uma anunciação (que se inicia, para as crianças que foram adoptadas, como para todas as outras, com a mesma pergunta: "eu também andei na tua barriga?..."). Uma revelação organiza-se pela vida, à medida que os pais se revelam pais, presentes e atentos. Já quando as crianças querem saber a verdade da sua gestação querem, no fundo, saber porque motivo é que sentindo os pais como pais de verdade, não haveriam de ter andado na barriga da mãe (e, no fundo, a revelação consubstancia-se aqui...)."
Na semana passada houve passeio da escola. A visita foi ao Jardim Zoológico de Lisboa e ele estava entusiasmado. Quando o fui buscar vinha tão contente a falar de todos os animais que tinha visto e das brincadeiras com os amigos que achei que tinha sido um dia perfeito para ele... até entrar na brincadeira (de vez em quando ainda sente que está a ser gozado quando brincamos)!!
Pois, parecia estar num desses dias!!! Amuou e disse que estava farto que o gozassem! Confesso que inicialmente nem percebi, até que lhe perguntei o que se tinha passado, para me dizer isso. Disse, então, que o tinham gozado no autocarro mas que não queria falar no assunto!
Fiquei possessa e depois angustiada! Que lhe teriam dito???
É verdade que até hoje nunca soube de qualquer situação em que usassem o facto de ser adoptado contra ele, pelo contrário, mas conhecendo a ingénua crueldade das crianças não consegui impedir que os pensamentos fossem por aí! Passei as horas seguintes com um nó no estômago, ele pelo contrário continuava feliz e entusiasmado com o passeio.
Só na hora em que o fui deitar é que voltei a tocar no assunto, e depois de alguma insistência lá me contou que os amigos estavam a mandar "piropos" às meninas e que gozaram com ele porque ele não lhes seguiu o exemplo! Na hora tive de resistir forte para não soltar uma gargalhada tal foi o meu alivio!!! Seria de imaginar algo assim, mas esta "cabecinha pensadora" foi logo atrás do pior cenário!
Abracei-o e disse-lhe que estava muito orgulhosa dele por não ter participado nessa brincadeira, porque se havia meninas que não se importavam haveria outras que ficariam magoadas e que isso não era bonito. Sei que o fez mais por vergonha do que por uma noção de moral em particular, mas ainda assim, aproveitei para o aconselhar a tratar todas as pessoas com respeito em particular as meninas.
Sei que não teve os melhores exemplos no início de vida, por isso sinto que todos os momentos são importantes para lhe passar a mensagem correcta. Disse-lhe também que a menina certa para ele existia e que podia levar algum tempo mas iria encontra-la, e no entretanto que fosse tratando as amigas como gosta que tratem a mãe!
Moral da história... o que parecia complicado, afinal, até era muito simples!!!
O passeio este fim-de-semana foi ao Parque dos Monges em Alcobaça. Foi a 2ª vez em menos de dois anos e vale mesmo a pena! Nós fomos passar a tarde de domingo, mas para quem quiser o parque tem zona de picnic!!
Aqui vão encontrar um pouco de tudo:
museu dos doces conventuais...
fauna e flora em abundância ...
uma aldeia medieval...
actividades desportivas (slide, escalada, canoagem, tiro ao alvo)...
a ilha dos macacos (que nunca se vêem ;) )...
torneio medieval (com direito a reis e mascote)...
...entre muitas outras actividades!!!
É um lugar bonito, com gente simpática e muiiitto divertido!!!
...este sentimento torto que invade a vida de tantas mães!
Há uns tempos escrevi aqui sobre as saídas a dois e o feedback que teve deixou-me a pensar. Depois li o post da Ana (Mulher, Filha e Mãe) há uns dias e voltei a remoer um pouco mais o tema. Parecem questões diferentes, e são, mas o sentimento que nos leva a questionar é o mesmo - a CULPA. As opiniões manifestadas em ambos os posts é basicamente a mesma, ou seja, é importante o tempo para nós mesmas e para a relação do casal, mas...o famoso "MAS"... são poucas ou nenhumas as mulheres que conseguem usufruir desses momentos sem a dita "CULPA" (a maldita palavra que detesto). Parece impresso no cérebro feminino que só é boa mãe quem passa todo o seu tempo dedicado há família, particularmente aos filhos. Medimos a nossa capacidade de ser "boas mães" pela quantidade de tempo que estamos a dedicar aos nossos filhos.
Vi em tempos um programa que falava em particular desta questão. A americana Robin McGraw (defensora do direito de ser mulher, esposa do psicólogo americano Phill McGraw e mãe de 2 rapazes adultos, entre outras coisas), como explica neste vídeo a uma mãe, dizia que uma mulher antes de poder cuidar dos outros tem de cuidar dela mesma. Na altura, recordo que uma luzinha se acendeu em mim. Sempre me fez confusão, antes mesmo de ser mãe, ver as mulheres que me rodeiam, colocarem sempre os filhos à frente de tudo. Entendam-me, para mim, as necessidades básicas de qualquer criança está primeiro, enquanto pais essa é a nossa obrigação, mas isso não significa que o mundo gira à volta deles. O que lhes poderá acontecer no futuro quando perceberem que na realidade não o são (o centro do mundo)!?!? Nas relações com os amigos, nas relações profissionais e até mesmo numa relação amorosa??
É importante que aprendam, desde pequenos, que sim, são importantes para os pais, sim são amados, e sim, têm de respeitar os outros e respeitar-se a si mesmos. E se a criança aprende com o exemplo, então não é importante mostrar-lhes que devem cuidar delas próprias, vendo-nos cuidar de nós mesmas? Não nos compete a nós, enquanto pais, mostrar-lhes o melhor exemplo do que queremos para eles, numa relação a dois, vendo os pais cuidarem um do outro e terem tempo para eles?
Algo que me tenho apercebido nos últimos tempos é que as semanas mais complicadas cá em casa, são exactamente aquelas em que não consigo arranjar um tempinho para mim...o nível de stress sobe sempre! Por isso mudei algumas atitudes que tinha.
Quando saímos para as caminhadas da manhã ao fim-de-semana, normalmente, ele ia de bicicleta a fazer avarias e eu acabava mais stressada do que se estivesse em casa, então passámos a deixar a bicicleta no carro, acompanha a nossa caminhada e no final tem um tempinho para fazer as suas manobras no parque próprio para o efeito - no inicio não gostou, mas teve de se habituar que eu e o pai também temos direito ao nosso momento. Na minha hora do banho, a menos que a casa pegue fogo, não pode "perturbar" esse momento - era sempre nessa hora que ia bater à porta e fazer mil perguntas, demorou um pouco este habito mas ao fim de duas semanas já estava entranhado. Se passo o dia fora a trabalhar, há os minutos de "meditação" da mãe (um tempinho para desligar do mundo e relaxar) e depois há o tempo com o filho. E isto é apenas o início!!!
Entretanto, ainda estou em processo de me livrar da culpa que me assalta quando finco pé com o meu filho e imponho as novas regras, sim às vezes sinto-me um pouquinho fria e egoísta, mas agora sei que não é assim! Tenho direito de cuidar de mim, tenho direito ao meu tempo, o meu momento!!!!
Tudo é uma questão de tempo, mudar a mentalidade que impõem esta culpa nas mulheres, mas tal como tudo na vida, a mudança tem de começar em nós mesmos. Além de nos afirmarmos, precisamos, também, aprender a aceitar as escolhas das outras mulheres. Quer escolha ficar em casa com os filhos, quer escolha uma carreira profissional, e distribuir o seu tempo de outra forma, esse é o seu direito e eu não tenho de fazer qualquer tipo de juízo sobre a vida que cada uma escolhe ter!!!!
Estou a ler a história contada por José Rodrigues dos Santos em O Anjo Branco, e estou a adorar!!
Gosto sempre de livros factuais, que me ensinam algo mais sobre história, sem serem de história...isto é, gosto de livros que me contam uma história, real ou não, mas num contexto real. Este é um destes casos. O facto do panorama geral ser África é um toque extra, ou não fosse eu filha de retornados.
Adorei ler o Equador de Miguel Sousa Tavares e chorei com Os Retornados de Júlio Magalhães. Neste último foi difícil não me identificar com a maioria das histórias retratadas. Fosse pela própria história dos meus pais, fosse pela história de amigos e familia que conheci, mas também porque quando o li consegui colocar-me no lugar da minha mãe e a realidade do que viveram, caíu sobre mim de uma forma que nunca tinha acontecido.
Mas voltando ao presente, este livro, apesar de ficcional, tem um retrato realista da forma como a 2ª Guerra Mundial foi vivida em Portugal e sobre uma época em Moçambique e Angola que poucos conhecem...eu em particular.