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UMA MÃE DE CORAÇÃO... e algo mais

Este blog, mais do que "mãe de coração" tem "fragmentos de uma vida comum". Uni os dois blogs e, aqui, falo de adopção em geral, da nossa experiência e de outros pedaços da minha vida.

UMA MÃE DE CORAÇÃO... e algo mais

Este blog, mais do que "mãe de coração" tem "fragmentos de uma vida comum". Uni os dois blogs e, aqui, falo de adopção em geral, da nossa experiência e de outros pedaços da minha vida.

31
Out14

O que é importante para ti?

Ontem à noite a hora dos trabalhos de casa foi complicada. Ontem o problema não era a quantidade, nem a dificuldade em saber ou não a matéria.

 

 

Tinha de preparar um trabalho oral sobre o tema "Algo que tenha sido importante para ti", podia falar de uma pessoa, um lugar, uma cidade e já estava marcado há umas semanas mas só se dispôs a pensar no assunto no dia antes. Pediu sugestões e "entreguei-lhe" umas quatro ou cinco que detestou. Qualquer coisa que lhe dissesse aumentava a tensão e só me sabia dizer que "NADA era importante para ele". "Talvez jogar computador", mas nem isso era importante o suficiente para falar numa aula. Os colegas "todos" tinham falado de viagens ao estrangeiro e eu ainda não o levei. Quando expressei a minha estranheza por serem tantos a fazer férias fora de Portugal (não está propriamente numa escola de elite!) revirou os olhos e calou-se.

 

Em determinado momento precisei de uns minutos para me acalmar e poder organizar ideias. Chamei-o para conversarmos com calma, e falei-lhe sobre o que achava que o estava realmente a incomodar e o que achava que o iria ajudar a sentir-se melhor com este trabalho. 

 

Na verdade para crianças com a experiência de vida dele é muito complicado assumirem que algo é importante para eles, dizer que gostaram muito de uma coisa é um risco enorme porque sentem que sempre que o fizeram perderam-na. 

 

Não sabia que mais lhe dizer a não ser que compreendia o que sentia e que também gostaria de alterar o passado mas não sendo possível só posso tentar fazer melhor no presente e esperar (é tão difícil esperar para um adulto, para uma criança parece impossível!).

 

Este não era certamente o melhor trabalho para lhe pedir, mas alterar o programa por uma criança parece mais difícil.

30
Out14

Um pequeno texto que diz muito

Num trabalho na escola foi pedido ao meu filho, e restante turma, que escrevesse sobre a sua experiência, dificuldades e sentimentos na primeira semana de aulas na nova escola. Então ele escreveu: (texto depois de corrigido)

Título (escolhido por ele): A minha vida

Já tive algumas experiências, dificuldades e sentimentos. Experiências desagradáveis, outras agradáveis, já fiz várias vezes as malas. Mas, na primeira semana de aulas senti-me confortável como se já cá estivesse a estudar. Mas não, também já não era a primeira vez que estava nesta escola, porque com os meus avós e uma minha a trabalharem cá já conhecia, por isso senti-me bem, bem demais. Foi agradável.

Na primeira leitura que fiz deste texto confesso que fiquei um pouco aborrecida pois já o tinha visto escrever textos mais elaborados e nem percebi como a professora lhe deu quase nota máxima, descontou apenas por pequenos erros. Por isso reli e voltei a ler e só depois vi o que esteve sempre lá. Por vezes tenho dificuldade em lembrar-me que o meu filho só está comigo há uns meses, que existe toda uma perspectiva do seu passado que desconheço, o mundo visto pelos olhos dele. São pequenas "brechas" como a que este texto mostra que me recordam que muito existe por fazer, por dizer.

 

Independentemente, de mantermos um diálogo aberto sobre tudo, apesar de nos mostrarmos disponiveis para tudo o que ele precisa, não é suficiente. Ás vezes é preciso alguém "de fora" para nos ajudar, outras vezes só o tempo o pode fazer!

29
Out14

E se/quando ele quiser conhecer os progenitores?!?!?

Há dias perguntaram-me se não tinha medo que um dia o meu filho quisesse conhecer os progenitores (não foi essa a palavra que usaram mas é a que eu uso!), respondi automaticamente que não, ainda que não estivesse bem certa.

 

Fiquei a pensar no assunto e cheguei à conclusão que não é de todo algo que me ocupe o pensamento ou o coração. Acho que tem direito a isso mesmo. 

 

Quando começámos todo este processo foi-nos colocada a opção de mantermos algum contacto com a família biológica e embora o meu marido estivesse aberto a isso, eu não. Na verdade ele tinha uma visão meio idealizada da adopção, fruto da versão americana que nos é apresentada quer em documentários quer em filmes. Confrontado com a realidade portuguesa mudou de ideias e optamos pela adopção plena.

 

Contudo temos perfeita noção que poderá haver, no futuro, curiosidade do nosso filho em saber o que foi feito dos progenitores e, espero, poder ajudá-lo e acompanhá-lo nesse processo. Embora não incentive também não escondo nem fujo do assunto, em cada etapa acho que deve ser abordado abertamente respeitando a linguagem própria da idade.

 

 

Segundo o site da Segurança Social:

Adoção Plena

Na adoção plena, a criança ou jovem adotado:

  • Torna-se filho do adotante e passa a fazer parte da sua família, para todos os efeitos legais, incluindo os sucessórios;
  • Deixa de ter relações familiares com a sua família de origem;
  • Perde os seus apelidos de origem e adquire os apelidos dos adotantes;
  • Pode, nalgumas situações, mudar o nome próprio (se o adotante o pedir e o Tribunal concordar).

Esta adoção é definitiva, não podendo ser revogada, nem mesmo por acordo entre o adotante e o adotado.

 

 

Adoção Restrita

Na adoção restrita, a criança ou jovem adotado:

  • Torna-se filho do adotante, mas mantém todos os direitos e deveres em relação à família de origem (salvo algumas restrições estabelecidas na lei);
  • Pode receber apelidos do adotante, mas mantém um ou mais apelidos da família de origem;
  • O adotado, ou os seus descendentes, e os parentes do adotante não são herdeiros uns dos outros nem estão reciprocamente obrigados à prestação de alimentos.

 

A adoção restrita tem ainda as seguintes particularidades:

  • Pode, em determinadas circunstâncias, ser revogada;
  • Pode a todo o momento, por decisão judicial, ser convertida em adoção plena, a pedido dos adotantes e desde que se verifiquem os respetivos requisitos.

 

23
Out14

Saber esperar

Ontem no meu post comentei a regra cá de casa sobre os doces. Qualquer que seja o doce, rebuçados, pastilhas, chocolates, bolos, gelados, gomas, mousses, seja o que for só ao fim de semana. Claro que há excepções, aniversários, um amigo do pai ou da mãe ofereceu, enfim, podem ser abertas excepções mas só com autorização do pai ou da mãe. Ás vezes é dificil resistir à tentação, e já houve "falhas" mas por norma o nosso filho sabe respeitar e não come sem pedir.

 

Houve um episódio há uns meses em que o avô lhe deu um rebuçado e ele pediu se podia comer. Disse-lhe que o ía deixar escolher, podia comer de imediato aquele rebuçado ou esperar e depois de jantar iria poder comer dois.

 

Foi mais forte do que ele e a meio do caminho para casa teve de o comer. Quando lhe fiz esta proposta foi baseado no "teste do marshmallow" que tinha visto num video uns dias antes. Segundo o estudo realizado "as crianças capazes de esperar pelo segundo marshmallow tornaram-se mais confiáveis e equilibradas. Elas tinham melhores notas e melhor relacionamento com os colegas em comparação às crianças impulsivas. O resultado? Elas tornaram-se adultos mais bem-sucedidos." Ver pormenores aqui

 

 

Hoje pelo 3º dia consecutivo que o meu filho pede uma pastilha ao ir para a escola ou no regresso (a caixa está no carro em lugar visísvel), comecei a achar que era tortura e que devia esconder a caixa, mas depois resolvi não o fazer, testar as crianças é positivo, desafia-las, aprender a saber esperar. Por isso o teste vai continuar e o "piqueno" vai ter de esperar pela pastilha no fim de semana. É verdade que hoje de manhã argumentava que sexta feira à tarde já é fim de semana e eu aceitei, mas na condição que domingo à tarde seria semana e portanto nada de doces! Desistiu da sexta-feira!! 

 

 

22
Out14

Dizer NÃO

Nunca é fácil dizer não a uma criança. Numa adopção tardia ainda é mais difícil. Conscientes das dificuldades já vividas pelos nossos filhos, as privações de anos, diz-nos o primeiro instinto que o certo é tentar compensar o tempo perdido, mas não é possível, o passado não se volta a viver, só o presente.

 

Confesso que em determinados momentos a minha primeira reacção era a da compensação, mas pelo exercício que fiz quando me preparei para a adopção tardia, aprendi que o não deve estar presente desde o primeiro momento juntos e assim fiz. Desde o dia que nos conhecemos que digo não ao meu filho. 

 

Claro que como qualquer outra criança, o meu filho, não gosta e faz birra, tem mais dificuldade em aceitar determinados nãos, especialmente depois de termos quebrado a regra uma vez (abrir excepções torna a aceitação da regra mais complicada) algo que é inevitável, contudo procuro sempre lembra-lo, quando tal acontece, que foi uma excepção e que a regra se mantém para o momento seguinte (se o deixei comer o rebuçado que o avô deu num dia de semana quando a regra diz que só se comem doces ao fim de semana, não significa que tenho de deixar comer o segundo rebuçado que a avó deu!). Sabendo que é uma criança que não teve muitas oportunidades de comer doces e que vê com alguma frequência os colegas a come-los durante a semana, a minha primeira tentação é ceder e fazer-lhe a vontade, pensar que é um mal menor, que assim pelo menos não se sente diferente, mas na verdade ele é diferente, tem pais que se preocupam com a sua saúde e que aprenda a respeitar regras.

 

Inicialmente estas contrariedades eram bem aceites por ele, com o decorrer do tempo tornou-se mais difícil, as expectativas criadas por estas crianças são muitas e o confronto com a realidade não é nada fácil para eles.

 

Ainda assim a persistencia dos pais nestas matérias parece-me ser o melhor caminho. Tal como eles temos de aprender a não ceder ao facilitismo, ainda que por vezes sejamos tentados a abrir excepção .

 

Procuramos sempre recordar-lhe que dizemos NÃO para que quando for crescido saiba lidar com os obstáculos da vida da melhor forma, e embora ele ainda não consiga ver qualquer benefício imediato, nós, enquanto pais, temos de acreditar nisso e continuar a batalhar.

 

A verdade é que com o tempo o não torna-se mais fácil para nós pais e para eles as excepções tornam-se ainda mais deliciosas 

 

Psicologa Margarida Chagas diz:

"Existem várias formas de dizer não aos filhos, a primeira e mais simples, é simplesmente dizer não. As pessoas precisam interpretar o "dizer não" como um ato de amor e não o contrário, como muitas vezes acontece.

A criança que tem limites torna-se um adulto com capacidade de enfrentamento, com alto grau de tolerância a frustrações e, desta forma, é claro, uma pessoa mais feliz em seus diversos papeis. O "não" na hora certa proporciona o "sim" em grandes oportunidades."

21
Out14

As histórias longe da verdadeira história

Durante os primeiros meses ouvimos uma série de histórias e comentários do meu filho sobre o passado dele. Era qualquer coisa como: - Olha X amanhã vamos visitar o lugar Y! - ao que ele respondia: - Não quero, já lá estive com o meu outro pai! - claro que sabíamos que não era verdade, mas apenas dizíamos: - Ok, então vais visitar novamente, quem sabe encontras algo que não viste da primeira vez! - escusado será dizer que saía de casa sempre amuado, mas depois de chegar aos sítios adorava.

 

Noutros momentos em que se falava sobre qualquer coisa que se tinha feito ou alguém nos dizia que tinha feito (andar de barco, ir à pesca, conduzir camião, visitar o quartel de bombeiros, etc.) para tudo isso e mais, ele dizia sempre que ou já tinha feito com o outro pai ou o outro pai fazia, e em tudo, mesmo sabendo ser mentira, evitávamos dar a entender o que sabíamos.

 

Sempre achei que deixar passar uma mentira por mais pequena que seja, acaba por ter mais tarde consequências e as mentiras aumentam. Pode ser que nem sempre seja assim, mas comigo foi assim, em criança comecei a inventar histórias que todos achavam piada, depois vieram as mentirinhas e a seguir tentava mentir por qualquer coisa ainda que não ganhasse nada com isso e só parei depois de ser várias vezes castigada e portanto, quero melhor para o meu filho.

 

Por isso, quando as invenções passaram a pequenas mentiras, coisas insignificantes do dia a dia, mudei a minha atitude e passei a confrontar essas mentiras, com advertências sobre as consequências das más escolhas.

 

É verdade que nunca mentiu sobre algo sério nem tenta esconder, é fácil perceber quando algo está errado, mas partilho do pensamento registado no provérbio "de pequenino se torce o pepino" assim, prefiro tomar uma atitude mais cedo do que mais tarde.

 

Primeiro tentámos o dialogo, várias chamadas de atenção, até que acabámos por "ameaçar" terminar com os privilégios (bicicleta, computador, televisão) por tempo indeterminado. Parece que surtiu efeito, as invenções começaram a diminuir e as mentiras também. 

 

Não tenho ilusões e sei que vão voltar a acontecer, espero apenas conseguir identificá-las e agir convenientemente e na hora certa, mas isso é o que todos pais desejam, ou não?!?

 

Quanto às histórias do passado, as verdadeiras continuam guardadas dentro dele, as inventadas são também quase inexistentes. Numa das suas últimas invenções sobre o passado acabei por falar: expliquei-lhe que não precisava inventar mais sobre o passado, nós conhecíamos muita coisa sobre ele e portanto sabíamos o que era verdade ou não (ok, se calhar não pratico o que prego já que não sabemos assim tanto, mas é por um bem maior, digo eu) e que, se não  falávamos sobre o assunto era apenas por sabermos que lhe era difícil e que queríamos respeitar o tempo dele recordando-lhe também, que o amávamos independente de tudo e que quando quisesse abrir-se connosco estávamos disponíveis.

 

Continuo dividida entre o certo e o errado, sei que sou um bocadinho repetitiva nesta questão, e não, não pretendo que me digam que estou certa apenas porque quero ter razão, mas porque sei que esta é a maior batalha que os pais travam consigo mesmos e por vezes, a forma como alguns falam faz parecer que têm todas as certezas do mundo, quem tem duvidas não é competente. Para mim é exactamente o oposto!

20
Out14

Momentos/dias dignos de registo

Depois de um fantástico fim de semana entre amigos, o cansaço quase leva a melhor de mim...acordei a pensar em mais uma manhã de luta para tirar o meu filho da cama e conseguir que se despache para a escola.

 

Todas as manhas, durante as semanas de aulas, tenho de o arrastar da cama, com muita resmunguice à mistura porque não quer ir para a escola, não quer estudar, é preguiçoso e por isso não se quer mexer (diz ele)...e lá o vou empurrando para a casa de banho. Na hora de vestir tenho de estar de minuto a minuto a chama-lo à atenção para se vestir de contrário fica sentado na cama a olhar à volta, a espreguiçar-se ou coçar-se (era de esperar que tivesse sarna ou algo assim com tanto que se coça, mas não é apenas "vicio"). Depois vem a hora do pequeno almoço - a primeira refeição do dia é sempre uma tortura -, enquanto preparo o meu pequeno almoço, o lanche para ele levar, e como, ele ainda está com a mesma quantidade em frente dele! Na hora de sair de casa já estou cansada de tanto me repetir e insistir!

 

Por tudo isto e depois de um fim de semana de muita correria e viagens (ontem adormeceu no carro pela primeira vez) estava certa que seria uma manhã extra complicada. Então, imagine-se o meu espanto, quando o vou chamar e ele salta da cama para me abraçar e desejar bom dia, em poucos minutos estava lavado e vestido, e até preparou sozinho o pequeno almoço, comeu rapidamente e nem foi preciso lembra-lo de ir lavar os dentes!!!! Quando nos despedimos ao chegar à escola não pude deixar de o elogiar e dizer-lhe como estava orgulhosa por se ter despachado tão bem. 

 

Pode ser "sol de pouca dura" mas para mim foi um dia memorável. Não sei se o facto de ver como vivem outras crianças nas suas casas com os seus pais (ficámos em casa de amigos) fez algum click na sua cabecinha ou foi mera coincidência mas seja o que for fiquei muito feliz!

 

13
Out14

"Como correu a escola?"

O titulo do post de hoje saiu de um artigo que li há umas semanas, quando tentava perceber como saber mais sobre o que se passava com o meu filho na escola já que a resposta à pergunta: - Como correu o teu dia?, era invariavelmente: - Normal, aulas e mais aulas e intervalo!, sem mais para acrescentar!

Sugeriam então um tipo de questionário diferente (ver abaixo) que de imediato coloquei em prática, claro que não faço todas estas perguntas, as vezes vario outras limito-me a uma ou duas, há dias que é suficiente para iniciar o dialogo na viagem de regresso a casa, noutras termina em discussão, mas uma coisa é certa, há sempre alguma coisinha que se aprende!

1. Qual foi a melhor coisa que aconteceu hoje na escola? E a pior?

2. Conta-me algo que te tenha divertido hoje.

3. Se pudesses escolher, sentavas-te ao pé de quem na sala? E quem é que não queres que se sente ao pé de ti?

4. Qual é o sítio que mais gostas na escola?

5. Diz-me uma palavra esquisita que ouviste hoje.

6. Se eu telefonasse agora à tua professora, o que é que ela me ia dizer sobre ti?

7. Ajudaste alguém a fazer alguma coisa hoje?

8. Alguém te ajudou a fazer alguma coisa hoje?

9. Diz-me uma coisa que tenhas aprendido hoje.

10. Qual foi o momento mais giro de hoje?

11. O que é que te chateou hoje?

12. Se um extraterrestre entrasse na sala e pudesse levar alguém com ele para fora dali, quem é que querias que fosse?

13. Com quem é que gostavas de brincar no intervalo que ainda não brincaste?

14. Diz-me uma coisa boa que tenha acontecido hoje.

15. Que palavra é que a tua professora te ensinou hoje?

16. O que é que achas que devias fazer ou aprender mais na escola?

17. O que é que achas que devias fazer menos na escola?

18. Na tua sala, com quem é que achas que podias ser mais simpático/a?

19. Em que sítio é que costumas brincar quando estão no intervalo?

20. Quem é a pessoa mais engraçada na tua sala? Porquê?

21. O que é que gostaste mais no almoço de hoje?

22. Se amanhã fosses tu a professora, o que é que mudavas?

23. Há alguém na tua sala que está a precisar de descansar?

24. Se pudesses trocar de lugar com alguém, com quem é que trocavas?

25. Diz-me três vezes em que tenhas usado o lápis hoje.

 

fonte: site observador.pt - como correu a escola?

11
Out14

Semear para colher!?!

Na sinopse do livro "Abandono e Adopção" de Eduardo Sá e Maria Clara Pereira de Sousa Sottomayor encontrei a seguinte frase:

"Quando se quer fazer de um filho uma criança adoptada, ter um filho é uma obra de caridade. Quando se quer fazer duma criança adoptada um filho, reconhecemo-nos nele, e toleramos melhor a nossa condição humana. Sobretudo porque ele será tudo aquilo que não fomos e fará o que deixámos por fazer."

Esta é uma verdade absoluta, para mim. Nunca vi o meu filho como uma obra de caridade e sempre me revoltei contra quem acha que é! Detesto a ideia de pensar nele como um coitadinho, independentemente de me corroer o coração a ideia do que ele passou até chegar aos meus braços e o que passa para se libertar do passado.

 

Ao mesmo tempo revejo-me nele, as lutas que travei na infância, as dificuldades que tive em me aceitar, em gostar de mim, em confiar em mim mesma, sempre com o desejo de agradar e sempre camuflando a verdade com uma aparente alegria de sorriso fácil.

 

O meu maior desejo é que ele não precise do tempo que eu precisei para ter a auto-confiança que demorei a conseguir. Queria poder ensina-lo a apreciar o momento, a aceitar-se como é sem necessitar da aceitação dos outros, e embora saiba que é uma utopia desejar que uma criança de 9 anos tenha essa capacidade, não consigo deixar de desejar ter essa magia dentro de mim. A poção mágica que acaba com todo o mal e só o deixa saborear o que há de bom na vida!

...

Mas será que não são as dificuldades, os obstáculos da vida vencidos que nos transformam em pessoas fortes e seguras? Enfim, resta trabalhar dia a dia para alcançar as pequenas vitórias e saber esperar que o que semeamos hoje seja colhido no futuro!

10
Out14

E as ditas burocracias!

Diz-se do processo de adopção que é complicado, moroso e cheio de burocracias. 

 

Considerando a minha experiência e não a de outros, não vi complicação alguma, considerando que um grupo de estranhos está a entregar um criança a outros estranhos, até o achei muito simples. Burocracias, vulgo papelada, também não vi grandes dificuldades durante o processo de selecção. Sim, os inquéritos individuais são extensos e aparentemente repetitivos, mas sendo a principal ferramenta que as A.S. têm para nos conhecer também não achei excessivo. Quanto à morosidade, bem isso começa a mexer com o sistema nervoso no primeiro instante. E para quem conhece um pouco da nossa história sabe que, para os padrões normais, até foi muito rápida.

 

Agora há uma série de prazos que a mim me fazem confusão e, talvez por desconhecimento dos procedimentos legais internos dos tribunais, me parecem completamente absurdos! Será que não é aí que a dita burocracia tem de ser reduzida?

 

 Será que para averiguar se existem condições na família X para criar uma criança, dentro do que são os seus direitos, são precisos anos? Será que ao retirarem uma criança de um lar por situações de violência e abusos é preciso anos para que os pais biológicos tomem medidas para resolver a questão e poderem passar a proporcionar um lar saudável para uma criança? Será que é justificável prolongar o projecto de vida de uma criança só porque um dos progenitores a contactou no ultimo dia legal para o fazer, depois de passar meses completamente ausente?

 

E no processo de adopção, serão precisos meses para assinar um documento de transferência de tutela e os pais adoptivos poderem ir conhecer o/a filho/a? São precisos meses para marcar audiência em tribunal para finalizar o processo de adopção e outros tantos meses para enviar sentença e documentação final?

 

Sim aumentem a burocracia, mas no processo de selecção dos adoptantes, mais entrevistas, mais formação, vamos garantir que as pessoas têm o máximo de informação possível ao adoptar uma criança e reduzir, assim, o número de "devoluções" (é ridículo usar este termo quando falamos de seres humanos, mas é uma realidade).

 

Vamos acabar é com a burocracia desnecessária, os prazos alargados dos nossos tribunais, vamos sim, criar condições para que a angustia da espera não venha criar mais stress num processo já de si tenso!

 

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