Este blog, mais do que "mãe de coração" tem
"fragmentos de uma vida comum".
Uni os dois blogs e, aqui, falo de adopção em geral,
da nossa experiência e de outros pedaços da minha vida.
Este blog, mais do que "mãe de coração" tem
"fragmentos de uma vida comum".
Uni os dois blogs e, aqui, falo de adopção em geral,
da nossa experiência e de outros pedaços da minha vida.
As variações do "clima" cá em casa parecem (e deixo bem claro que parecem...não quero agoirar) estar a melhorar, ou a serem mais espaçadas!
Ontem foi um dia de festa/comemorações no Colégio do meu filho, e, por motivos que me são alheios (ainda não estive com a Directora de Turma), foi escolhido para representar o 5º ano junto das entidades presentes nas cerimónias. Consistia em estar no altar durante a missa e oferecer um ramo de flores a um dos membros da Direcção. Na sexta-feira quando me contou esta novidade parecia um pouco ansioso com a situação mas passou o fim de semana sem voltar a tocar no assunto e sempre divertido e descontraído.
Segunda-feira acordou cedíssimo, despachou-se rapidamente e tentou arranjar discussão comigo de todas as formas e feitios. Tentei ser paciente e não lhe dar troco...mas há um limite, que começa a ser cada vez mais difícil de manter, por isso acabei por lhe dizer que sabia que estava ansioso, mas que não servia de nada arranjar discussão comigo, só iria conseguir ficar de castigo num dia que tinha tudo para ser divertido (iriam fazer um passeio de bicicleta à tarde que ele estava mortinho por participar)! Não sei se a ideia de um possível castigo ou o facto de identificar o que ele estava a sentir, mas foi o suficiente para se acalmar.
Ao fim da tarde quando o fui buscar tive professores e funcionários a vir-me cumprimentar pelo comportamento exemplar dele durante todas as cerimónias (sabem que é uma criança mexida e faladora, daí a surpresa em aguentar tanto tempo sossegado). Ele, em compensação, assim que me viu começou com a "implicância", respondia torto, levantava a voz com tom agressivo sempre que lhe colocava alguma questão... enfim, aquele ar pesado parecia querer instalar-se novamente.
Experimentei o de sempre na expectativa de não provocar nova "crise existencial". Mantive o meu tom de voz e tentei mostrar-me firme quanto ao que considerava falta de respeito e mau comportamento em geral...e não é que funcionou!?!? "Tens razão mãe, peço desculpa, mas passei a tarde toda a falar alto por causa da confusão e agora estava habituado" - disse ele.....sabendo eu perfeitamente que no meio de tudo aquilo vinha também o cansaço acumulado de um dia longo e extenuante.
Pensei que estava ultrapassado...errado...chegada a hora de jantar resolveu implicar com a comida (note-se que é uma criança que come bem e de tudo) ou porque não gostava, ou porque era muito, ou porque eu devia cortar-lhe a carne (tem nove anos!) enfim todas as desculpas e mais algumas, até que com menos de meio jantar comido o mandamos para a cama, meia hora antes do habitual! É verdade que nem discutiu (acho que as forças estavam a acabar) mas quando fui dar o "miminho" de boa noite perguntou se estava zangada com ele e se estava de castigo!
Respondi-lhe que não, que apesar de ele negar eu sabia que era o cansaço que o estava a incomodar, que o cansaço fisico junto com a ansiedade faziam isso e que na verdade estava orgulhosa dele por ter seguido os nossos conselhos e ter-se portado bem nas cerimonias. Quando lhe dei o beijo de boa noite e o gosto de ti, respondeu "Eu também"!!! E assim ganhei o meu dia!
Note-se que até agora nunca nos disse, diretamente, que gostava de nós.
Desde que nos conhecemos que ambos gostávamos da musica John Legend - All of me (eu já era fã do John Legend) e quando expliquei ao meu filho a letra, ele respondeu que era como nós os dois, gostamos um do outro de uma ponta à outra!
É um amor diferente mas também nos apaixonámos um pelo outro, com todas as qualidades e defeitos, sem saber muito bem como ou porquê estamos apaixonados! ;)
'Cause all of me Loves all of you Love your curves and all your edges All your perfect imperfections Give your all to me I'll give my all to you You're my end and my beginning Even when I lose I'm winning 'Cause I give you all of me And you give me all of you
...perguntei-me, por diversas vezes, como seria o nosso primeiro encontro. Será que vai gostar de mim? Que devo dizer-lhe? Será que o posso agarrar e não largar mais??? Tudo isto me passou pela cabeça e muito mais. O que nunca me questionei era sobre o que eu sentiria por ele. Desejei-o por tanto tempo, esperei por ele todos aqueles anos, queria ser mãe. Por tudo isso achava que o sentimento de amor incondicional seria instantâneo, no primeiro olhar!
Mas comigo não foi assim!
Passada a primeira hora de convívio, quando começámos a relaxar e a relacionar-nos enquanto família comecei a sentir-me inquieta, havia algo que não estava bem, olhava para aquela criança, que era agora o meu filho e não sabia como me sentir. Todos aqueles tiques nervosos dele, a gargalhada estridente (outro sinal do seu nervosismo) tudo isso me pareceu irritante. queria fugir, queria começar de novo, com mais calma e segurança para que o sentimento fosse instantâneo, queria ama-lo incondicionalmente, como sempre ouvi as outras mães dizerem que sentiam.
Mas a vida não é assim! Comigo não foi assim!!
Por isso enfureci-me comigo mesma, que espécie de mãe poderia eu ser para esta criança, se não conseguia sentir o amor de mãe? E se nunca o viesse a sentir? Como poderia cria-lo? E se alguém percebesse o que eu estava a sentir? E se mo tirassem??? Isso seria ainda pior, seria tirar-me um pedaço de mim que eu nem sabia que tinha!!!
E, no meio deste turbilhão, chegou a hora de o entregar na instituição para passar a noite. Assim começou a noite mais longa de sempre! Dizer que não "preguei olho" a noite inteira é pouco... noites mal dormidas todos tivemos/temos, mas uma noite inteira de consciência alerta, a rever cada segundo do dia que havia passado, questionando como estaria o meu filho em todos os segundos que estava longe de mim, isso sim era a novidade para mim!
Depois veio o telefonema com a amiga/irmã/mãe que me contou o segredo inconfessável de muitas mães... nem todas sentem a ligação instantânea, mesmo com o filho que carregamos no ventre por nove meses, o amor incondicional está dentro de nós, mas apenas o notamos quando não estamos à procura dele!
E foi assim comigo, quando não o procurei senti...amo o meu filho com todas as forças e não imagino o meu mundo sem ele!!!!
Desde sempre ouvi dizer que os processos de adopção em Portugal são muito lentos e, efectivamente, para a maioria das pessoas que tenho conhecido têm uma história que assim o confirma. Contudo para nós não foi assim e por isso acho importante partilhá-la!
Nós, o meu marido e eu, iniciámos o nosso processo em Fevereiro de 2013 e fomos aceites, enquanto casal adoptante, em meados de Novembro. Até aqui tudo muito normal dado que tudo decorre com prazos legais muito definidos.
No entanto, e aqui sim a nossa história difere da maioria, a nossa "gravidez" foi de apenas 2 meses. Não houve "cunhas" nem atalhos no nosso processo, apenas "abrimos a porta" para adoptar uma criança mais crescida do que, por norma, acontece (adopção tardia, como alguns lhe chamam). Tem nove anos!
Estamos ainda a conhecer-nos, já na nossa casa, e está a correr melhor do que o esperado! Não é perfeito, nem o desejaríamos, há um turbilhão de sentimentos para moldar, da nossa parte e em particular da parte dele...é um novo mundo que se abre, gigantesco e assustador, mas é uma criança que precisa apenas de uma família e carinho, e esta era a nossa ambição....tudo o resto faz parte do crescimento normal!!
Há um ano atrás, quando ainda decorria o processo de avaliação, jamais me passaria pela cabeça, ter a família completa no dia de hoje. Conhecendo as estatísticas preparei-me para um ano ou dois de "gravidez" e por isso, talvez não saiba exactamente a ansiedade que trazem consigo todas as pessoas inscritas há anos na base de dados nacional, mas sei como nos corroi por dentro o desejo não concretizado de ser pais. Vivi muitos anos assim enquanto ainda tinha esperança de engravidar. Hoje sei que tudo o que me aconteceu não foi por acaso. Sinto que tudo aconteceu no momento certo, ainda que antes não o percebesse!